13/06/2011

Correntistas não sabem que, assim como ocorre na telefonia, podem migrar sua dívida de um banco para outro, renegociando taxas


As pessoas que pagam juros exorbitantes ignoram um importante instrumento para barganhar com bancos e obter queda da taxa paga pelo dinheiro emprestado, com a opção de migrar a dívida para outra instituição financeira. Desde 2007 existe a portabilidade da dívida, assim como a portabilidade do telefone em que o cliente leva seu número de uma operadora para outra do sistema de telefonia móvel celular. Nas ruas de Bauru somente quem tem mais proximidade com o sistema financeiro conhece a portabilidade da dívida.

O Banco Central do Brasil regulamentou a transferência de dívidas entre instituições do Sistema Financeiro Nacional (SFN), ao baixar a resolução 3.401, de 6 de setembro de 2006. A portabilidade da dívida passou a vigorar em 2007, porém pouca pessoas se beneficiam com a vantagem de transferir débito de um banco para outro que ofereça juros mais convidativos ou vantagens na barganha.

Não há como obrigar uma instituição financeira a aceitar uma dívida contraída em outro banco. Porém, o banco está obrigado a ceder a dívida para outro. A partir daí vale pesquisar, barganhar e buscar a melhor negociação, que para o professor da FIB e da Fecap, o economista Mauro Gallo, é pagar menos juro.

Ele avalia que a grande maioria das pessoas desconhece a portabilidade da dívida. Mais conhecida é a portabilidade do telefone, que permite migrar de uma operadora para outra, ou do plano de saúde. O desconhecimento da portabilidade de débito também se deve ao fato de muitos trabalhadores receberem salários no banco com o qual faz todas as suas transações. Portanto, não pesquisa as taxas e vantagens oferecidas pelo mercado.

Orientações

O economista entende que, excetuando uma dívida de risco de insolvência, a instituição financeira tem interesse em receber a dívida contraída em outro banco. Gallo argumenta que o cliente trará a dívida e outras operações financeiras.

O economista exemplifica como risco a dívida de cheque especial. Normalmente, a taxa do cheque especial é mais elevada em toda a rede bancária brasileira porque não há garantia caso a pessoa não pague, diferente de um financiamento de um carro ou um imóvel, em que há um bem oferecendo lastro para a dívida. “Se a pessoa não tem nenhum patrimônio, o risco é total”, avalia. O economista lembra que quem paga juro alto acaba cobrindo o rombo da inadimplência de quem não paga, por isso, o cheque especial é o vilão do segmento de empréstimos.

Gallo ressalta que os bancos têm interesse em emprestar porque ganham dinheiro com este “aluguel” de dinheiro.

Mas Gallo alerta que o primeiro critério que a pessoa deve considerar ao assumir uma dívida é pagar a menor taxa e não pensar de forma imediatista, porque resolveu um problema de curto prazo, mas não conseguirá suportar a carga de juro “comendo” sua renda.

Ele sugere que o cliente verifique com o banco que trabalha se não há na carteira de produtos uma opção com taxa mais interessante. Ao invés de migrar de banco, migra-se do cheque especial para, por exemplo, um financiamento de 12 meses.

“De repente, a taxa cai de 9 a 10% ao mês para 4% a 4,5% ao mês”, projeta.

O economista recomenda a portabilidade da dívida como uma opção para ser avaliada em que se busque o menor custo do débito.

BC vê vantagem ao consumidor

Dados do Banco Central demonstram o crescimento das transações de portabilidade da dívida desde o início da medida. A assessoria de imprensa da instituição federal entende que, mais do que a movimentação, a portabilidade trouxe poder maior de barganha do cliente com seu banco. O BC ressalta que o cliente acaba não migrando sua dívida porque ganhou vantagens diretas e indiretas, como a diminuição de juro apenas com a ameaça de trocar de banco.

O JC fez contato com vários bancos para obter informações da portabilidade porém apenas o Banco do Brasil, por meio da assessoria de imprensa, comentou o assunto. O BB entende que o cliente pode migrar, mas ressalta que não conseguirá condições especiais apenas porque migrou e terá que adquirir outros produtos da instituição que aceitou sua dívida.

Em 2007, ano em que passou a vigorar a norma, o Banco Central verificou 569 contratos totalizando R$ 80,4 milhões em maio. No ano passado foram 38.282 contratações no mesmo mês, perfazendo R$ 772,5 milhões e, no mês passado inteiro, foram 32.832 negociações, no valor de R$ 414,7 milhões.

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